O caso do padre jesuíta Rupnik coloca em questão um dilema ético e moral que tem sido debatido ao longo dos anos: o que fazer com as obras de arte de artistas que cometem crimes ou transgressões? É uma questão complexa e não há uma resposta fácil.

De um lado, é importante reconhecer a gravidade das acusações feitas contra Rupnik. Abuso sexual, psicológico e espiritual são crimes terríveis e inaceitáveis, e é fundamental que essas denúncias sejam investigadas e que haja justiça para as vítimas. É compreensível que as igrejas que possuem obras de arte criadas por ele estejam considerando retirá-las, dada a seriedade das acusações.

Por outro lado, há o valor artístico e histórico dessas obras. Muitas igrejas e locais sagrados têm obras de arte que são consideradas tesouros culturais e religiosos, e que foram criadas por artistas que podem ter cometido transgressões em suas vidas pessoais. Seria justo apagar essas obras por causa das ações de seus criadores?

Não há uma resposta fácil, mas é possível pensar em algumas possibilidades. Uma delas seria manter as obras, mas contextualizá-las de maneira apropriada. Isso poderia envolver incluir informações sobre as acusações contra o artista, bem como sobre o contexto histórico e cultural em que a obra foi criada. Isso permitiria que os visitantes entendessem tanto o valor artístico da obra quanto as questões éticas envolvidas.

Outra possibilidade seria remover as obras e substituí-las por outras que tenham o mesmo valor artístico e histórico, mas que tenham sido criadas por artistas que não tenham cometido transgressões. Isso seria uma forma de preservar a integridade das igrejas e dos locais sagrados, sem apagar a história ou o valor artístico das obras.

Em última análise, cabe às instituições religiosas que possuem obras de arte de Rupnik decidirem o que fazer. Independentemente da decisão tomada, é importante lembrar que o valor artístico de uma obra não justifica ou minimiza os crimes cometidos pelo seu criador. É possível admirar a beleza e o significado de uma obra de arte, ao mesmo tempo em que se reconhece e repudia as ações de seu criador.

Mauro Nascimento

Referência:

BBC Brasil. Acesso em: 17 abr. 2023.