Catolicismo de maneira inclusiva

Categoria: Opinião (Página 4 de 14)

Desafiando a “omissão”: o papel dos homens na luta feminista

Vivemos em uma sociedade marcada por desigualdades e opressões, e o machismo é uma das mais persistentes e nocivas delas. Como indivíduos conscientes dessa realidade, muitos de nós se esforçam para serem antirracistas, antilgbtfóbicos e, principalmente, antimachistas. No entanto, é preciso lembrar que esse esforço não pode se limitar a um discurso vazio e a uma postura passiva.

Não basta dizer que apoiamos a luta das mulheres e que acreditamos em igualdade de gênero. É preciso que essas palavras sejam acompanhadas de ações concretas, especialmente quando se trata de confrontar atitudes machistas em nosso próprio círculo social. Não é fácil, mas é necessário.

O problema da “omissão” masculina, ou seja, a lealdade cega e incondicional entre muitos homens, é que muitas vezes ela é usada para justificar e encobrir comportamentos abusivos e opressores. É comum que homens fechem os olhos para o machismo de amigos e conhecidos, preferindo manter uma camaradagem cega a confrontar o problema de frente.

Essa atitude não só é prejudicial para as mulheres que sofrem com o machismo, mas também para os próprios homens que perpetuam e reforçam a cultura machista. Ao não confrontar atitudes machistas em nosso próprio círculo social, estamos contribuindo para a perpetuação do problema e para a manutenção do status quo.

É preciso ter coragem para confrontar essas atitudes e desafiar nossos amigos e conhecidos. Não é fácil, mas é necessário se quisermos promover uma cultura mais justa e igualitária. Devemos nos perguntar: qual é a mensagem que estamos passando para as mulheres em nossa vida quando ignoramos ou minimizamos comportamentos machistas em nossos amigos?

Ser antimachista não é apenas uma questão de discurso, mas de ação. É preciso ter a coragem de agir, de enfrentar desconfortos e de desafiar nossos próprios preconceitos. Enquanto a “omissão” masculina for mais forte do que a nossa vontade de mudar o mundo ao nosso redor, pouco progresso será feito. Mas podemos começar a mudar isso, hoje, agora, dentro de nós mesmos e dentro do nosso círculo social.

Mauro Nascimento

Reflexões sobre a frase de Elis Regina: “ninguém faz nada certo na hora errada”

Ao proferir a famosa frase “[…] ninguém faz nada certo na hora errada […]” (Jogo da Verdade – TV Cultura, 05/01/1982), Elis Regina trouxe à tona uma reflexão profunda sobre a natureza humana e a importância do tempo em nossas vidas. Essa afirmação nos convida a refletir sobre a sincronia que deve existir entre nossas ações e as circunstâncias em que nos encontramos.

A vida é composta por uma infinidade de escolhas e decisões que tomamos diariamente. Em cada momento, somos confrontados com a necessidade de fazer escolhas que afetarão não apenas o nosso futuro, mas também o presente e as pessoas ao nosso redor. No entanto, nem sempre acertamos nesses momentos cruciais.

A ideia de que ninguém faz nada certo na hora errada sugere que, embora possamos ser capazes de reconhecer o que é certo e desejável, nem sempre somos capazes de agir de acordo com essa percepção. Podemos ter os melhores planos e intenções, mas se não os colocarmos em prática no momento adequado, corremos o risco de perder oportunidades e enfrentar consequências indesejáveis.

A importância do tempo na realização de nossos objetivos é inegável. A vida é uma sucessão de momentos, cada um com sua própria relevância e potencial. Portanto, é essencial estarmos atentos ao ritmo da vida e aos sinais que ela nos apresenta. Às vezes, a ação precisa ser adiada para permitir um amadurecimento interno ou para que as circunstâncias externas se alinhem da maneira correta.

Entretanto, também é importante reconhecer que a ideia de “certo” e “errado” pode ser subjetiva. O que é certo para uma pessoa pode não ser para outra. Portanto, a frase de Elis Regina nos leva a considerar não apenas o momento certo para agir, mas também a natureza dos nossos próprios valores e aspirações.

Além disso, não podemos ignorar o fator da imperfeição humana. Somos seres falíveis, propensos a erros e equívocos. Nem sempre somos capazes de tomar as decisões corretas ou agir da maneira que gostaríamos. No entanto, é nesses momentos de falha que podemos aprender e crescer, adquirindo sabedoria e maturidade ao longo do caminho.

Portanto, a frase de Elis Regina nos convida a refletir sobre a importância da sincronicidade entre a ação e o tempo, e também sobre a nossa capacidade de reconhecer e buscar o que é verdadeiramente importante em nossas vidas. Somente quando estamos alinhados com esses elementos, somos capazes de realizar nossos objetivos de maneira satisfatória e significativa.

Mauro Nascimento

Transbordando falsidade: desvendando a efemeridade das aparências

“Gente falsa é igual leite fervendo… Virou as costas já sabe…” (Autor desconhecido).

A efemeridade das relações humanas muitas vezes se assemelha ao leite fervendo, pronto para transbordar e espalhar-se pela vida de cada um. Essa analogia traz à tona a dinâmica complexa de conviver com pessoas falsas, cujas intenções podem se dissolver no calor das aparências e da hipocrisia.

Assim como o leite, cuja natureza líquida se transforma drasticamente ao ser submetido ao calor, as relações humanas também passam por mudanças quando expostas ao fogo das adversidades e das dificuldades. Algumas pessoas, infelizmente, revelam sua falsidade quando a pressão do cotidiano se intensifica, e os verdadeiros aspectos de suas personalidades emergem.

Nesse contexto, virar as costas torna-se uma reação natural e compreensível. A decepção ao descobrir a falsidade de alguém pode criar uma barreira entre as partes envolvidas, afastando-as como água que evapora com o calor do descontentamento. Afinal, lidar com a hipocrisia pode ser uma experiência desgastante, capaz de corroer a confiança e gerar cicatrizes emocionais profundas.

Contudo, é preciso enxergar além dessa aparente amargura. Assim como o leite fervido pode ser utilizado em receitas saborosas, a experiência de conviver com pessoas falsas também pode nos ensinar lições valiosas sobre a importância de discernir e valorizar os verdadeiros amigos e companheiros. A adversidade pode nos guiar ao crescimento pessoal e ao entendimento de que, em meio à volatilidade humana, existem indivíduos genuínos com quem podemos construir relações sólidas e verdadeiras.

Em última análise, a metáfora do leite fervendo nos convida a refletir sobre as nuances das relações interpessoais e a importância de cultivar laços baseados na sinceridade e na verdade. Aqueles que optam por serem falsos podem até transbordar momentaneamente, mas suas máscaras eventualmente caem, revelando sua real essência. Por outro lado, aqueles que se mantêm autênticos permanecem como a essência mais pura do leite, não importa quais sejam as circunstâncias.

Portanto, que possamos aprender com a sabedoria do leite fervendo e encontrar em nós mesmos a coragem para filtrar o que é falso e abraçar o que é verdadeiro. Assim, seremos capazes de nutrir nossa vida com relacionamentos genuínos e duradouros, formando uma conexão verdadeira com o mundo à nossa volta.

Mauro Nascimento 

A cartada final: quando o destino se rende às “Mãos de Deus”

“Deus sempre está no final das partidas, e não se deixa condicionar pelos jogos humanos. Vai de encontro à leitura de Gênesis 44,18-21.23b-29.45,1-5. Os irmãos jogaram todas as ‘cartas’. Mas Deus deu a ‘cartada final'” (Monsenhor André Sampaio, 13/07/2023).

No jogo da vida, muitas vezes nos encontramos imersos em partidas complexas e desafiadoras, onde cada movimento é estrategicamente planejado para alcançar determinado objetivo. Porém, independentemente de nossas habilidades e decisões, há momentos em que nos vemos impotentes diante das circunstâncias. É nesses momentos de incerteza e adversidade que percebemos que Deus transcende os jogos humanos.

A referência ao trecho bíblico de Gênesis 44,18-21.23b-29.45,1-5 nos convida a refletir sobre a trajetória dos irmãos de José, que jogaram todas as cartas disponíveis em sua busca pela reconciliação e salvação. Eles agiram de acordo com suas próprias motivações, planos e limitações, sem saber que Deus estava trabalhando nos bastidores para cumprir Seus propósitos maiores.

Assim como na história bíblica, em nossa jornada pessoal, muitas vezes acreditamos que estamos no controle absoluto de nossas vidas. Planejamos meticulosamente nossos passos, fazemos escolhas com base em nossos conhecimentos e experiências, e jogamos todas as cartas que temos. No entanto, é importante lembrar que Deus está sempre presente, observando cada movimento e agindo em consonância com Seus desígnios.

No momento em que achamos que tudo está perdido, quando todas as nossas estratégias se esgotaram, Deus intervém. Ele não está condicionado pelos jogos humanos, pelas nossas limitações ou pelas regras do mundo que criamos. Ele transcende tudo isso. É como se Ele segurasse a cartada final, aquela que pode mudar completamente o curso dos acontecimentos.

Essa perspectiva nos ensina a confiar em Deus mesmo quando tudo parece perdido. Mesmo que não entendamos o porquê das situações adversas ou das derrotas temporárias, podemos acreditar que Ele tem um propósito maior, um plano que vai além do que podemos compreender. Deus está presente no final das partidas, quando tudo parece estar prestes a desmoronar. Ele é capaz de trazer redenção, transformação e vitória, mesmo nas circunstâncias mais difíceis.

Portanto, não devemos nos desesperar quando enfrentamos obstáculos aparentemente insuperáveis. Em vez disso, podemos depositar nossa confiança em Deus e em Seu poder soberano. Ele é capaz de virar o jogo, de transformar derrotas em vitórias e de trazer esperança onde antes havia apenas desespero. Nossa tarefa é perseverar, agir com fé e lembrar que, embora sejamos jogadores nesse tabuleiro da vida, Deus é o Grande Jogador, Aquele que segura a cartada final.

Mauro Nascimento

A mina adormecida desperta: reflexões sobre a pepita de ouro encontrada por um garoto em São João del-Rei/MG

A história do garoto de 12 anos que encontrou uma pepita de ouro em uma antiga mina de São João del Rei (MG) traz à tona reflexões importantes sobre diferentes aspectos. Nesse contexto, é possível identificar dois pontos de vista: um positivo e outro negativo.

No lado positivo, temos o olhar de uma criança, que é marcado pela curiosidade, pela imaginação e pela capacidade de enxergar além do óbvio. Enquanto os adultos podem passar despercebidos por detalhes e possibilidades, as crianças têm uma perspectiva mais aberta, livre de preconceitos e condicionamentos. O fato de o garoto ter encontrado a pepita de ouro na mina desativada do século XVIII é um exemplo claro disso. Sua mente inquisitiva e sua habilidade para explorar o ambiente de forma criativa possibilitaram a descoberta de algo valioso, que estava escondido há mais de um século. Essa capacidade de ver o mundo de maneira única e inventiva é algo que todos nós, como adultos, podemos aprender e resgatar em nossas vidas.

Por outro lado, existe o lado negativo dessa situação. A descoberta da pepita de ouro pode estimular o interesse de empresas mineiradoras e seus poderosos lobbys, que podem ver nessa notícia uma oportunidade para explorar novas áreas e buscar mais lucros. A exploração desenfreada dos recursos naturais pode ter consequências devastadoras para o meio ambiente e para as comunidades locais. A história nos mostra que, muitas vezes, o desejo pelo ouro e por riquezas materiais tem levado a práticas irresponsáveis de extração mineral, que resultam em desmatamento, poluição dos rios, deslocamento de populações e perda de biodiversidade.

Portanto, é necessário refletir sobre como equilibrar esses dois aspectos. Devemos incentivar a criatividade, a curiosidade e a imaginação das crianças, reconhecendo que seus olhares podem trazer descobertas valiosas e transformadoras para o mundo. Ao mesmo tempo, é fundamental estabelecer políticas e regulamentações que garantam a proteção ambiental e o desenvolvimento sustentável, evitando a exploração indiscriminada dos recursos naturais. É responsabilidade de todos nós, como sociedade, encontrar um caminho que permita a preservação do meio ambiente, o respeito às comunidades locais e o estímulo ao potencial criativo das novas gerações.

Em suma, a história do garoto que encontrou a pepita de ouro na mina de São João del Rei nos convida a refletir sobre a importância de resgatar o olhar criativo das crianças, ao mesmo tempo em que nos alerta sobre os perigos da exploração desmedida dos recursos naturais. Cabe a nós encontrar um equilíbrio entre esses dois aspectos, promovendo um desenvolvimento sustentável que valorize a natureza, a cultura e o potencial humano.

Mauro Nascimento

« Posts anteriores Posts recentes »

© 2025 Katholikos

Por Mauro Nascimento