LIVRAI-NOS DO MAL
“A metafísica, quando fala do mal, diz que ele existe e não existe. Ele existe na medida em que vejo o sofrimento ao meu redor, o mal que me toca, etc. Por outro lado, a metafísica diz que ele não é uma coisa no mundo, no sentido que não é uma substância.
Os padres da igreja, especialmente Santo Agostinho, constatam que o mal é a ausência do bem. O mal é a constatação de uma falta, de um não ser. De maneira mais exata, poderíamos dizer que se trata de uma privação. Usando uma metáfora, poderíamos dizer que o mal é como um buraco: como descrever um buraco se em relação ao todo que o buraco representa. O buraco em um tecido só existe na medida em que é uma falha do tecido.
Aplicando essa imagem ao mal, ele existe somente na medida em que é ligado ao bem, isto é: ele é uma privação do bem. Por isso, poderíamos dizer que ele vem sempre em segundo lugar.
O contrário nunca é a mesma coisa: o bem não pode ser definido em relação ao mal, mas em relação a si mesmo. O bem tem uma primazia sobre o mal. Fica evidente se compararmos o cego com a visão. O cego sofre a privação da vista, sendo essa o bem primeiro, que permite definir o mal através do contraste.
Nos ajudam a pensar as palavras de Santo Irineu de Lyon:
‘A visão não seria tão desejável para nós se não soubéssemos que grande dano é a cegueira; a saúde também se torna mais preciosa pelo julgamento da doença, assim como a luz pelo contraste entre a escuridão e a vida pela morte. Assim, o reino celestial é mais precioso para aqueles que conhecem o da terra; e quanto mais precioso for, mais vamos amá-lo’.
A metafísica sem dúvida nos ajuda a entender o mal de maneira genérica e também em relação à religião. Mas o mal do qual pedimos que Deus nos livre na oração do Pai-Nosso é bem conhecido das Escrituras: é o Maligno, com letra maiúscula, o demônio, uma realidade mais forte que o homem, que está na origem do mal. A potência dessa criatura é a razão pela qual, às vezes, parece que o mal vence a humanidade.
Jesus, através de sua cruz e sua ressurreição, nos livra desse mal. Rezemos incessantemente pedindo a Deus que nos livre do mal.”
Monsenhor André Sampaio