“Agora é a hora de tomar as cordas de volta e dizer: Pode parar, reseta! Mas Deus fala que não pode mais. Já meti esse arco-íris aí. Se eu pudesse, matava tudo e começava de novo. Mas prometi que não posso, agora tá com vocês. Não entendeu o que eu disse? Agora, tá com vocês! Deus deixou o trabalho sujo para nós” (Pastor André Valadão, 02/07/2023).

No atual contexto social, a disseminação de mensagens carregadas de ódio e intolerância representa um desafio para a coexistência pacífica e o respeito à diversidade. As afirmações feitas pelo Pastor André Valadão recentemente têm suscitado várias indagações sobre a responsabilidade dos líderes religiosos em promover o diálogo e criar um ambiente inclusivo. Nessa reflexão, examinaremos essa controvérsia, destacando a importância de uma comunicação responsável, baseada no amor e no respeito ao próximo.

Líderes religiosos têm uma influência significativa sobre suas comunidades e, portanto, precisam ser conscientes do poder de suas palavras. Embora seja fundamental exercer a liberdade de expressão, é igualmente essencial que essa liberdade seja exercida com responsabilidade. Ao proferir declarações que promovem o ódio e a violência contra qualquer grupo, inclusive a comunidade LGBTQIA+, há uma clara violação da responsabilidade de disseminar valores de amor, tolerância e respeito que são centrais em muitas tradições religiosas.

Além do mais, as palavras de Valadão também revelam uma contradição teológica. Ao afirmar que “Deus deixou o trabalho sujo para nós”, ele parece esquecer que Deus é concebido como onipotente, onipresente e onisciente nas principais religiões monoteístas. A natureza de Deus não está sujeita a limitações humanas e não requer intervenção humana para alcançar Seus propósitos. Portanto, tais afirmações contradizem a própria essência do conceito divino.

A disseminação de mensagens que incitam o ódio pode ter consequências devastadoras. Palavras carregadas de intolerância alimentam o preconceito e a discriminação, levando a um ambiente de hostilidade. Essa hostilidade pode culminar em atos violentos, colocando em risco a vida e a dignidade das pessoas LGBTQIA+. Nesse sentido, a fala irresponsável do pastor contribui para a construção de um clima de violência, contrapondo-se ao princípio fundamental de amor e compaixão que muitas religiões defendem.

Em tempos de polarização, é imprescindível que líderes religiosos assumam um papel de agentes de reconciliação e promotores do diálogo construtivo. A diversidade de pensamentos, crenças e orientações sexuais deve ser acolhida com empatia e respeito, permitindo que as diferenças sejam debatidas e compreendidas em um ambiente seguro e inclusivo. É necessário lembrar que todas as pessoas merecem dignidade e proteção, independentemente de orientação sexual.

Portanto, a controvérsia envolvendo as declarações do Pastor André Valadão nos faz refletir sobre a importância da responsabilidade na comunicação religiosa.

Mauro Nascimento