Catolicismo de maneira inclusiva

Tag: culpa

Você também se sente culpado por descansar?

Na sociedade contemporânea, existe um paradoxo curioso que permeia nossa relação com o tempo: quanto mais ferramentas temos para otimizar nossas tarefas, menos tempo parece nos sobrar. E quando finalmente encontramos um momento para descansar, somos assombrados por um sentimento peculiar de culpa, como se o próprio ato de pausar fosse uma transgressão contra nossa produtividade.

Este fenômeno não é mera coincidência, mas sim o reflexo de uma cultura que transformou a produtividade constante em uma virtude moral. O capitalismo moderno, aliado às tecnologias que nos mantêm constantemente conectados, criou um ambiente onde o “fazer” se tornou mais valorizado que o “ser”. Neste contexto, o descanso deixou de ser visto como uma necessidade biológica e passou a ser interpretado como um sinal de fraqueza ou, pior ainda, de preguiça.

O ritmo frenético de nossas vidas se assemelha a uma esteira em velocidade máxima, onde corremos incessantemente sem necessariamente chegar a algum lugar. Reuniões se sobrepõem a compromissos, notificações interrompem momentos de concentração, e a lista de tarefas parece se multiplicar mesmo quando dormimos. Este ciclo vicioso nos condicionou a um estado de alerta permanente, onde o próprio cérebro se recusa a desacelerar.

Quando finalmente nos permitimos uma pausa, seja forçada por exaustão ou planejada, o sentimento de culpa emerge como um fantasma familiar. “Será que não estou esquecendo algo importante?”, “Deveria estar aproveitando este tempo para adiantar aquele projeto?”, “Os outros estão trabalhando enquanto descanso?” – são perguntas que ecoam em nossa mente, envenenando momentos que deveriam ser de recuperação e paz.

Esta culpa do descanso revela uma distorção profunda em nossa compreensão sobre produtividade e bem-estar. Ignoramos que o descanso não é apenas uma pausa no trabalho, mas um componente essencial para nossa criatividade, produtividade e saúde mental. Os momentos de pausa são fundamentais para a consolidação de memórias, processamento de experiências e regeneração física e mental.

A natureza nos oferece exemplos claros desta necessidade: as estações do ano alternam períodos de crescimento e repouso, os animais hibernam, e até mesmo o solo precisa de períodos de pousio para manter sua fertilidade. Por que, então, nos convencemos de que podemos funcionar em um estado perpétuo de atividade?

É urgente reconhecermos que esta “cultura da pressa constante” está nos adoecendo. O aumento nos casos de burnout, ansiedade e depressão são sinais claros de que nosso modelo atual é insustentável. Precisamos reaprender a descansar sem culpa, compreendendo que o descanso não é um privilégio, mas uma necessidade fundamental.

A solução passa por uma mudança profunda de mentalidade. Precisamos desconstruir a ideia de que nosso valor está atrelado à nossa produtividade. O descanso precisa ser reintegrado em nossa rotina não como uma recompensa pelo trabalho, mas como parte integral de um ciclo saudável de vida.

Talvez seja hora de nos perguntarmos: quanto desta pressa é realmente necessária? Quanto deste sentimento de culpa é realmente nosso, e quanto foi imposto por um sistema que prospera com nossa exaustão? O verdadeiro progresso talvez não esteja em fazer mais coisas em menos tempo, mas em recuperar nossa capacidade de existir plenamente no momento presente, seja ele de ação ou de repouso.

O desafio está posto: precisamos reaprender a desacelerar, a respirar, a contemplar. Precisamos redescobrir o valor do ócio, do descanso regenerador e da pausa consciente. Só assim poderemos romper com este ciclo vicioso de aceleração constante e culpa, encontrando um ritmo de vida mais sustentável e humanizado.

Mauro Nascimento

O perigo da pregação baseada no medo e na culpa 

“[…] Digo-vos sinceramente que receio a rigidez, tenho medo. Fuja dos sacerdotes rígidos! Eles Mordem. Vem-me ao pensamento aquela expressão de santo Ambrósio, do século IV: «Onde há misericórdia há o espírito do Senhor; onde há rigidez há apenas os seus ministros». O ministro sem o Senhor torna-se rígido, e este é um perigo para o povo de Deus. Pastores, não funcionários” (Papa Francisco, 20/11/2015).

Desde os tempos mais remotos, o papel dos líderes religiosos tem sido fundamental na formação das sociedades e na orientação espiritual das pessoas. Ao longo dos séculos, esses líderes têm desempenhado um papel crucial na transmissão de valores e crenças, e, muitas vezes, na promoção da paz e da harmonia entre os povos.

No entanto, nem todos os líderes religiosos têm desempenhado esse papel de forma saudável e construtiva. Infelizmente, existem aqueles que se aproveitam de sua posição para impor suas crenças e valores, muitas vezes com base no medo e na intimidação.

Um exemplo disso são os padres que enxergam pecados em tudo e que, mais do que isso, acusam e ameaçam os fiéis com o inferno caso não cumpram certos mandamentos ou regras. Esse tipo de pregação é extremamente danosa, pois se baseia no medo, na culpa e na vergonha, e não na misericórdia e no amor que Deus nos ensina.

É importante lembrar que, segundo as Escrituras, Deus é sumamente bom e infinitamente misericordioso. Ele não nos criou para nos punir, mas sim para nos amar e nos guiar em nossa jornada espiritual. Por isso, a ideia de um Deus que exige sacrifícios ou castigos é uma distorção da verdadeira natureza divina.

Infelizmente, essa visão distorcida de Deus tem sido usada ao longo da história para justificar todo tipo de violência e opressão, desde as Cruzadas medievais até a Inquisição espanhola. Hoje, ela ainda persiste em certas correntes religiosas que pregam a exclusão e a intolerância em nome da “verdadeira fé”.

Diante disso, é preciso ter muito cuidado com os líderes religiosos que se baseiam no medo e na intimidação para impor suas crenças. É importante lembrar que, em última análise, somos todos responsáveis por nossa própria jornada espiritual, e que ninguém pode nos dizer o que é certo ou errado em termos absolutos.

Portanto, ao escolher um líder espiritual, é importante buscar aqueles que promovam a compaixão, a misericórdia e o amor incondicional, em vez do medo e da culpa. Somente assim poderemos encontrar o verdadeiro caminho para a paz interior e para uma relação autêntica com o divino.

Mauro Nascimento

© 2025 Katholikos

Por Mauro Nascimento